
Certo dia, o poeta árabe estava compondo uma bela canção. Por falta de inspiração, interrompeu seu trabalho e foi para o jardim descansar e respirar ar puro. Neste momento, Rabi Yehudá Halevi bateu à porta de sua casa. Como ninguém atendeu, o Rabi entrou na casa para esperá-lo, como de costume. Logo o sábio percebeu a música inacabada em cima da mesa.
O rabi, que também era um grande poeta, pegou uma pena e completou a canção em harmonia com a parte que já estava escrita. Antes que o dono da casa voltasse para a sala, o rabi foi embora.
Quando o homem voltou, qual não foi sua surpresa ao constatar sua composição perfeitamente concluída. O músico correu então para a casa de seu amigo Rabi Yehudá e contou-lhe o ocorrido:
– Veja, rabi! Alguém completou minha composição de forma magnífica! Eu preciso encontrar esta pessoa e agradecer-lhe!
– Por acaso você viu quem fez isto? – perguntou calmamente Rabi Yehudá Halevi.
– Não, não! – respondeu o poeta afoito.
– Então por que se preocupar?! Talvez ninguém tenha feito! Talvez a música tenha se completado sozinha!
– O que você está dizendo?! – disse espantado o compositor árabe. – De onde você tirou esta ideia absurda?! Pois não vê que aqui foram escritas palavras cheias de sentido e beleza?! As palavras e as notas estão em perfeita harmonia com o resto da música!
– Pois que seus ouvidos ouçam o que diz sua boca! – respondeu Rabi Yehudá. – Apenas algumas palavras e notas ordenadas, e você está tão convencido de que alguém fez isso. E por quê? Porque você obviamente percebe uma ordem! Então, diga-me: e o cérebro de quem completou esta composição? Será que se fez sozinho?... Sem que alguém o tenha ordenado? Ele se criou por si?
Rabi Yehudá Halevi (1085–1141) Rabi Yehudá Halevi (1085–1141)
Rabi Yehudá Halevi foi um grande sábio e filósofo do Povo de Israel e possuía um vasto conhecimento do Talmud. Sua obra mais conhecida é o Sêfer Hacuzari, um dos pilares do pensamento judaico. Discípulo de um dos maiores rishonim, o Rabi Yitschac Alfassi, nasceu em Toledo, na Espanha, entre os anos de 1075 e 1085.
Além de grande erudito e médico, Rabi Yehudá Halevi é também o mais famoso poeta da história judaica. Sua obra poética é muito extensa. Em sua obra, retratou cada aspecto de nossas vidas à luz da santidade. Seus poemas líricos, de grande espiritualidade e beleza, são hoje encontrados em nossos livros de rezas, cantados às mesas de Shabat, recitados em nossos casamentos e vêm enriquecendo nossas vidas durante os últimos nove séculos.
Entre seus famosos poemas estão "Yoná Mats'á Vô Manoach", "Tsiyon Halô Tish'ali" e a conhecida composição que inicia com a frase: "Meu coração está no Oriente enquanto eu estou no distante Ocidente". Desiludido com a Época Dourada na Espanha, quando muitos judeus abandonavam sua fé, Rabi Yehudá Halevi exclamava: "Judeus não são espanhóis! A Espanha não é o lar dos judeus!".
No ano de 1141, contra a vontade de seus amigos, embarcou para Êrets Yisrael. Durante a viagem pelo mar, escreveu uma série de poemas, denominados Shirê Hayam – Cânticos do Mar – nos quais descreve a beleza e o terror do imenso oceano, sua fé em D'us e sua aspiração por Tsiyon.
Segundo a tradição, a permanência de Rabi Yehudá Halevi na Terra de Israel foi curta e trágica. Quando chegou nos portões de Jerusalém e abaixava-se para beijar o solo, foi assassinado por um cavaleiro árabe. Sua sepultura é desconhecida, mas sua memória vive e suas composições encontraram um lugar especial no coração de seu povo.